HROV LUMA1000 completa novos testes com sucesso

A LUMA é um veículo submarino não tripulado (UUVs, Unmanned Underwater Vehicles). Está sendo desenvolvida na Universidade Federal do Rio de Janeiro pela equipe coordenada pelo Prof. Liu Hsu. Veículos submarinos não tripulados são divididos em três categorias:

● Veículos submarinos de operação remota (ROV) (Remotely Operated Underwater Vehicles): são veículos submarinos operados remotamente por uma pessoa a bordo de uma embarcação.

● Veículos submarinos autônomos (AUV) (Automonous Underwater Vehicles): são veículos submarinos que se movem e executam tarefas de maneira autônoma, sem a necessidade de um operador.

● Veículos submarinos autônomos híbridos (HROV) (Hibrid Remotely Operated Underwater Vehicle): são veículos submarinos que podem ter ambas as funções de operação remota e navegação autônoma.

Desenvolvido para o estudo da fauna e da flora do ambiente antártico por meio da coleta de imagens, vídeos de alta definição e amostras de organismos, rochas e sedimentos, a LUMA possui funcionalidades de um HROV e capacidade de ir em até 1000 metros. O HROV LUMA1000 é uma plataforma didática e está em constante estudo e desenvolvimento.

Pesquisador do InSAC toma posse na Academia Brasileira de Ciências

O professor Oswaldo Luiz do Valle Costa, docente da Escola Politécnica da USP e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Sistemas Autônomos Cooperativos (InSAC), é um dos mais novos membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Indicado e apoiado pelos pares, Oswaldo – que foi eleito pelos membros da entidade – tomou posse a distância no último mês de maio por conta da pandemia de Covid-19. 

Professor universitário há 30 anos, o cientista é membro da academia Nacional de Engenharia desde 2018, coautor de livros internacionais usados como referências em diferentes países e ainda conta com mais de uma centena de artigos publicados, além de dezenas de mestres e doutores orientados. “É uma alegria enorme! Fiquei muito contente por ter o trabalho reconhecido”, celebra. 

O professor Oswaldo tomou posse na ABC em maio.

Fundada em 1916 com o objetivo de reunir os mais importantes cientistas brasileiros, a ABC contribui com diferentes ações para o estudo de temas de primeira importância para a sociedade, dando subsídios para a formulação de políticas públicas no país. Com um quadro atual de mais de 900 pesquisadores, é uma das mais antigas associações de cientistas brasileiras e reconhecidamente a mais prestigiada dessas entidades. Oswaldo conta que espera agora, com a nova titulação, poder estimular ainda mais os jovens a seguirem a carreira acadêmica. 

Carioca, crescido na Urca, o cientista lembra que sempre foi uma criança curiosa e um adolescente interessado pela ciência, principalmente, por engenharia, física e matemática. “Sempre gostei da área de exatas e fui incentivado a estudar pelos meus pais, que não são cientistas”, lembra. Desde a adolescência, o professor tinha uma pequena oficina no quarto, onde adorava estudar circuitos. “Eu comprei até um kit que era vendido em banca de jornal naquela época para montar rádio em casa. Tinha um ferro de soldar e vivia me queimando”, recorda. 

Com graduação e mestrado em Engenharia Elétrica pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, concluídos em 1981 e 1983, respectivamente, Oswaldo se apaixonou mesmo pela área quando entrou no ensino superior. “Quando eu descobri a Engenharia de Controle, que é mais multidisciplinar, que mexe com matemática e computação, foi muito motivador. O curso tinha professores excelentes que apresentavam não só ferramentas profissionais, mas também incentivavam a pesquisa, encorajavam a fazer mais para além das provas”, diz. 

O cientista durante o doutorado em Londres

Após o mestrado, aos 23 anos, Oswaldo foi para Universidade de Londres fazer doutorado. O jovem engenheiro resolveu sair pela primeira vez da casa da mãe no Rio de Janeiro, onde morava com a irmã, e mudar para a Inglaterra para viver uma experiência internacional”. No primeiro ano foi difícil, era outra situação. Eu dividia apartamento, era outra língua, outra cultura, temperatura diferente do Rio, além de outros fatores. Depois a gente acaba se acostumando e se adaptando. No fim, foi fundamental para a minha carreira”, analisa. 

Foi durante o doutorado que Oswaldo conheceu sua esposa, que também estudava na Inglaterra, em uma festa de carnaval realizada por um grupo de brasileiros. Foi ela quem fez o carioca mudar para São Paulo, após a conclusão da tese, e prestar o concurso para docente na Poli. A relação com a mulher e com a USP dura até hoje. Oswaldo, que já foi chefe do Departamento de Engenharia de Telecomunicações e Controle, sente-se grato por fazer parte da história da Universidade. 

Oswaldo conheceu a esposa em Londres, onde se tornou doutor

“No começo dos anos 90, a Poli era muito voltada para formar engenheiros de mercado e nós conseguimos incentivar o desenvolvimento de pesquisas. Eu tive que procurar um doutorado fora do Brasil, pois não tinha um curso desse tipo no país. Mas hoje temos e podemos fazer qualquer ciência. Em três décadas, avançamos muito, criamos uma comunidade científica muito forte. É uma luta constante”, admite. 

Apesar das conquistas, não foi uma tarefa fácil. Para Oswaldo, embora exista uma classe pensante de primeira linha no Brasil, formada por pessoas muito capazes, ainda hoje se ouve absurdos em relação à Ciência. Segundo o cientista, a academia precisa conseguir mostrar de forma mais clara o seu papel e a sua importância. “Temos alguns avanços na comunicação, mas precisamos romper a barreira da elite intelectual e conversar com a população em massa para convencer os políticos da relevância da pesquisa. Também falta investimento, o que acarreta a perda de bons profissionais para outros países, já que aqui não são valorizados”, ressalta. 

O pesquisador no Laboratório de Automação e Controle da Escola Politécnica.

Atualmente, o especialista desenvolve projetos teóricos relacionados a sistemas que se reconfiguram após detectar falhas, tornando-os tolerantes a possíveis erros. Os estudos são desenvolvidos tanto no InSAC, que é sediado na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, como no Centro de Pesquisa para Inovação em Gás (RCGI), uma base mundial para estudos avançados no uso sustentável do gás natural, biogás, hidrogênio, gestão, transporte e armazenamento de emissões de CO2. Além disso, Oswaldo foi editor associado de periódicos internacionais, como o Automática e IEEE Control Systems Letters, e atualmente é editor associado do  SIAM Journal on Control and Optimization. Ele ainda coordena um curso de especialização. 

Olhando para o futuro, o pesquisador deseja continuar trabalhando e fazendo Ciência por mais uns bons anos. “Espero que, em breve, nós possamos voltar a nos encontrar com os alunos dentro das universidades. Tenho uma responsabilidade muito grande de continuar formando esses estudantes”, afirma. Para aqueles que também são apaixonados por Ciência o professor deixa um recado: “Não desista da carreira, apesar de todas as dificuldades. É muito gratificante. Não se ganha tanto dinheiro, mas você vai ter a satisfação pessoal de passar o conhecimento para frente, formar novos profissionais e trabalhar para o desenvolvimento do país”, conclui.

Por Eduardo Sotto Mayor, da Fontes Comunicação Científica, para o InSAC

Fotos: Oswaldo Luiz do Valle Costa – Arquivo pessoal

 

Artigo é premiado em Conferência internacional

O artigo Towards a Unified Approach to Homography Estimation Using Image Features and Pixel Intensities, de autoria de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), recebeu o prêmio de melhor paper na 16ª Conferência Internacional de Sistemas Autônomos (ICAS), realizada no final de 2020, em Lisboa, Portugal. 

O artigo premiado é resultado da dissertação de mestrado do ex-aluno da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, Lucas Nogueira, que atualmente cursa doutorado na Carnegie Mellon University (CMU), dos Estados Unidos. Durante o trabalho, que teve financiamento do INCT-SAC, Lucas foi orientado pelo professor Ely Paiva da Unicamp e coorientado pelo pesquisador Geraldo Silveira do CTI, que é especialista em Visão Robótica.

No artigo, os cientistas propõem a unificação de duas técnicas baseadas em visão computacional para melhorar os parâmetros de estimação de distâncias e interpretação de formas de objetos por robôs. Na prática, a combinação das técnicas permite obter maior velocidade e robustez na tomada de decisão das máquinas do que quando os métodos são utilizados individualmente. A manipulação de objetos por robôs é um  exemplo clássico de um cenário em que a maior agilidade e precisão dos movimentos é importante. 

A pesquisa de Lucas deu origem ainda a um software que realiza as estimativas de forma automática. O sistema, sua documentação e alguns outros exemplos de aplicações do novo modelo estão disponíveis para acesso gratuito da comunidade científica, que pode fazer o download dos arquivos por meio do seguinte link

Por fim, também foi disponibilizado um pacote ROS (Kinetic) que implementa um rastreador visual utilizando o software que foi criado. Tanto a sua documentação como alguns datasets estão disponíveis através do endereço > https://github.com/lukscasanova/vtec_ros

Texto: Assessoria de Comunicação do InSAC

 

Cientistas avançam na criação de robôs que desviam de obstáculos em movimento

Pesquisadores criaram novas técnicas para que drones e pequenos aviões controlem o próprio voo e alterem suas rotas em menos de 10 milésimos de segundo

Drones que realizam serviços de entrega estão cada vez mais próximos se tornarem algo comum na nossa rotina. Foto: Canva

O futuro é logo ali. As cenas de ficção científica com veículos terrestres e aéreos sem motoristas transportando pessoas e produtos e atuando em diferentes cenários estão cada vez mais perto da nossa rotina. Usando matemática, pesquisadores do INCT-SAC, sediado na USP, em São Carlos, conseguiram programar pequenos aviões e drones para identificar e desviar de obstáculos em movimento durante seu percurso, como animais, por exemplo. Ou seja, o robô passará a controlar seu próprio caminho e não seguirá apenas uma trajetória fixa, estipulada anteriormente. A inovação permite deslocamentos mais precisos, suaves e seguros, possibilitando que as máquinas sejam capazes de contornar algo que apareça na sua frente em menos de 10 milésimos de segundo.

O pesquisador Leonardo Pereira, que terminou recentemente seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica (PPGEE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e é um dos responsáveis pela tecnologia, conta que a nova técnica propõe que as máquinas sigam dois campos vetoriais para voar: “Um campo é o caminho pré-definido que o robô deve seguir. Porém, quando ele detecta um obstáculo, o segundo campo vetorial entra em cena para que a máquina faça uma curva, desvie do que estiver na sua frente e depois volte para seu circuito inicial”, explica.

A troca de informações é online. “Quando ele começa a detectar um obstáculo, o sistema analisa os dados, a velocidade é diminuída e o desvio é iniciado. O robô escolhe a direção que altera menos o seu trajeto original. A inovação é um grande passo na área de planejamento do movimento e controle de veículos autônomos, tendo em vista que o robô inicialmente não estava programado para saber o que estaria ali”, comemora Leonardo. Simulações em programas de computador já foram realizadas e a nova tecnologia pode ser aplicada em diferentes setores, como em vigilância e fiscalização, em serviços de entrega autônomos e até mesmo no auxílio de resgates em desastres naturais. 

Drone segue trajetória estipulada pelos cientistas para “treinar” manobras de desvio. Foto: Adriano Martins

Segundo o professor Luciano Pimenta, docente da UFMG e coordenador dos estudos, lidar com obstáculos em movimento é um dos principais desafios na área da robótica autônoma. Ele revela que ensinar os caminhos para os robôs e ajudá-los a definir o que deve ser feito caso apareça algo em sua frente, mantendo um percurso eficiente e seguro, não é tarefa fácil. Adriano Rezende, doutorando em Engenharia Elétrica da UFMG e orientando de Luciano, lembra que, para fazer um drone se movimentar corretamente, muitos fatores são levados em consideração, como as velocidades das hélices, por exemplo. “O drone pode se mover verticalmente, pode frear ou então voar parado no espaço. Então, o sistema tem que saber em qual posição o drone se encontra, se está empinado ou de cabeça pra baixo, além de entender como ele deve girar as hélices para um melhor rendimento e em qual direção seguir”, descreve.

O especialista conta que a construção de um robô passa por três etapas. “A primeira está relacionada com o sistema de sensores, para que o equipamento possa se localizar no espaço. Na segunda fase, é preciso fazer com que a máquina interprete as informações de localização e planeje como deve se movimentar de maneira segura, sem trombar em nada ou atropelar alguém. Por fim, efetivamente, o robô tem que se mover. Essa última fase é o que os cientistas chamam de controle. A gente especifica para o robô, por meio dos números, como serão esses vetores no espaço para que ele faça o caminho desejado”, explica.

Drone que será utilizado pelos pesquisadores nos experimentos. Foto: Adriano Martins

Em todo o mundo, pesquisas científicas avançam na criação de tecnologias e na busca por segurança para essas operações. Em maio, os pesquisadores irão participar da Conferência Internacional sobre Robótica e Automação (ICRA), o mais importante evento da área no mundo, onde Adriano, inclusive, publicou um artigo na edição do ano passado. Em 2021, um novo trabalho será apresentado na ICRA pela equipe de cientistas, desta vez sob autoria principal de Leonardo, que está ansioso por poder levar sua pesquisa a um nível internacional, compartilhar seus conhecimentos, conhecer outras pessoas e aprender mais. “Essa troca de informações é muito importante. Um Congresso desse tamanho é uma oportunidade única de mostrar o seu trabalho, ver o de outras pessoas e trazer o que outros pesquisadores têm desenvolvido para melhorar nosso projeto”, comenta. “Publicar no ICRA não é fácil. Menos de 50% dos trabalhos inscritos são aceitos”, completa o professor Luciano. 

Para o docente, o atual momento vivido pelo mundo deve acelerar a presença de robôs autônomos na sociedade. “A pandemia está atrasando muitas pesquisas por vários motivos, como o isolamento, que é necessário, e a falta de recursos. Ao mesmo tempo, tem todo o incentivo para o desenvolvimento dessas tecnologias por causa da demanda que a quarentena trouxe”, analisa. Nos próximos meses, os pesquisadores pretendem simular novos cenários de testes e seguir buscando melhorias e parcerias com outros estudiosos do assunto espalhados pelo mundo. Até o momento, o trabalho contou com financiamento do INCT-SAC, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Texto: Assessoria de Comunicação do InSAC

Estudo brasileiro é tema de reportagem norte-americana

Uma pesquisa desenvolvida por cientistas do Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação (SEL) da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP foi tema de uma reportagem do site norte-americano The Academic Times, veículo de comunicação voltado para divulgação de estudos científicos realizados em todo o mundo. O trabalho que se tornou destaque no portal foi o artigo Real-time deep learning approach to visual servo control and grasp detection for autonomous robotic manipulation, de autoria de Eduardo Godinho Ribeiro e Raul de Queiroz Mendes, ambos doutorandos da EESC, e Valdir Grassi Júnior, professor do SEL, orientador dos estudantes e membro do INCT-SAC. 

O tema do trabalho é manipulação de objetos por robôs. No estudo, os pesquisadores desenvolveram novas técnicas computacionais da área de aprendizado de máquina que visam auxiliar os robôs em tarefas como agarrar ou segurar peças, produtos, mercadorias e demais itens do dia a dia, podendo ser aplicadas, por exemplo, para o desenvolvimento de novos robôs domésticos ou até mesmo de máquinas para a manipulação de equipamentos industriais. No modelo proposto, o sistema  identifica, localiza e processa os dados visuais do ambiente em que está de forma mais rápida, além de possibilitar que o robô segure determinado objeto com uma precisão milimétrica.

Confira a reportagem completa do Academic Times clicando no seguinte link.

Texto: Assessoria de Comunicação do InSAC

ABC em defesa do FNDCT

Acesse o documento completo em PDF (clique aqui).

Prezado(a) parlamentar,
Nos últimos anos, vimos observando, com preocupação, a drástica redução dos recursos públicos destinados à ciência e à tecnologia no Brasil. Sabemos da importância que este setor tem para o desenvolvimento socioeconômico do país.
Por isso, comemoramos, no ano passado, a oportuna aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 135/2020, que, entre outras medidas, proibiu o contigenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e transformou-o em fundo financeiro, o que permite que recursos não utilizados em um ano sejam aproveitados no ano seguinte.
Infelizmente, essas vitórias estão ameaçadas por veto presidencial. Assim, deixamos aqui nosso pedido de seu voto para derrubada dos vetos do PLP 135/2020, que inviabilizam o FNDCT.
Nas páginas a seguir, esclarecemos a importância deste Fundo para o futuro do país. Ciência, afirmamos, gera desenvolvimento, e é crucial para o Brasil garantir as condições necessárias para que isso aconteça.
Contando com seu apoio, agradecemos desde já.

Luiz Davidovich
Presidente da Academia Brasileira de Ciências

O que é o FNDCT?
Criado em 1969, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico tem como objetivo apoiar a inovação e o desenvolvimento em todas as áreas da ciência e da tecnologia, bem como prover a infraestrutura necessária para concretizá-los. É considerado a principal ferramenta de financiamento da ciência, tecnologia e inovação do Brasil.

De onde vêm os recursos do FNDCT?
Dos setores produtivos que, por obrigação legal, repassam valores ao FNDCT por meio de fundos setoriais, como petróleo, energia, biotecnologia, agronegócios e recursos minerais, entre outros. Cada fundo setorial tem sua própria legislação. Em cada setor, contemplam-se fontes de recursos específicas, incluindo, por exemplo, alíquotas sobre royalties e sobre receitas operacionais.

Como são utilizados os recursos do FNDCT?
Os recursos do FNDCT são operacionalizados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. São eles a principal fonte de recursos para projetos inovadores no Brasil. A partir da página 7, apresentamos alguns desses projetos – vale a pena conferir.

Entre 1999 e 2019, o FNDCT arrecadou R$ 62,2 bilhões. Entretanto, esses recursos vêm sofrendo severos bloqueios e contingenciamentos, o que os impede, na prática, de financiar a ciência, a tecnologia e a inovação.

Quais são as principais conquistas do PLP nº 135/2020?
A primeira delas é a transformação do FNDCT em fundo de natureza financeira, o que assegura que os recursos arrecadados que porventura não puderam ser aplicados em um ano possam somar-se à arrecadação do ano seguinte.
Ainda, o PLP nº 135/2020 impede o contingenciamento de recursos, garantindo, assim, que a totalidade dos valores arrecadados pelo FNDCT chegue ao seu destino original: o financiamento da ciência, da tecnologia e da inovação no Brasil, por meio de projetos liderados pelos setores público e privado.

O que ameaça o pleno funcionamento do FNDCT?
Apesar da grande mobilização que permitiu a aprovação PLP nº 135/2020 com ampla maioria – 71 votos no senado e 385 votos na câmara –, os vetos presidenciais formalizados na Lei Complementar nº 177 de 12/01/2021, ao retomar antigas práticas de contingenciamento, impedem que os recursos arrecadados junto ao setor privado sejam utilizados plenamente no seu objetivo legal: o financiamento de ciência, tecnologia e inovação. Tais vetos representam mais uma ameaça à ciência brasileira e inviabilizam projetos de interesse nacional.

Por que é importante garantir constante aporte de recursos para ciência, tecnologia e inovação?
Ciência, tecnologia e inovação requerem planejamento e financiamento adequados e de longo prazo. Trata-se de atividades complexas e continuadas, que requerem infraestrutura sofisticada, excelente sistema educacional e apoio orçamentário e social contínuos.
Desenvolvimento científico e tecnológico requer continuidade de projetos que não podem ser interrompidos por falta de recursos, sob pena de atrasar pesquisas, desperdiçando os resultados já obtidos e o que já foi investido.
Por outro lado, os benefícios do fortalecimento das atividades ligadas à ciência, à tecnologia e à inovação são inúmeros: desenvolvimento econômico e social, redução das desigualdades, aumento na qualidade de vida das populações, geração de empregos e vários outros. Investir em ciência, tecnologia e inovação é investir no presente e no futuro do Brasil.

Um sistema de ciência, tecnologia e inovação fortalecido com adequado financiamento é o diferencial dos países mais desenvolvidos do mundo.

Investimento público é fundamental
Ainda que seja desejável e benéfico atrair investimentos privados diretamente para a pesquisa científica, o aporte de recursos públicos será sempre necessário. Um relatório da Comunidade Europeia sobre o valor da pesquisa (GEORGHIOU, 2015) ressalta que, sem intervenção governamental, projetos valiosos não seriam desenvolvidos pelas empresas. O documento estima que o investimento público em pesquisa tem um retorno equivalente a três a oito vezes o valor aplicado. Ainda, entre 20% a 75% das inovações não poderiam ter sido desenvolvidas sem a contribuição da pesquisa com financiamento público.
Também o Fundo Monetário Internacional aponta que o apoio público é essencial para o desenvolvimento de tecnologias inovadoras e que governos em muitos países, incluindo o Brasil, deveriam fazer mais para promover a pesquisa e o desenvolvimento (IMF, 2016).

Como os investimentos em ciência, tecnologia e inovação promovem o desenvolvimento econômico e social, reduzindo as desigualdades e gerando prosperidade?

• Criando soluções para o setor agropecuário, o que permite produzir alimentos mais baratos e em maior quantidade;
• Desenvolvendo novos medicamentos e vacinas para curar ou prevenir doenças que afetam a população brasileira e afastam as pessoas do trabalho;
• Gerando novas tecnologias de educação, comunicação e transportes, inclusive permitindo ampliar o alcance das mesmas às regiões mais remotas do território nacional;
• Aperfeiçoando a educação básica e o treinamento para o trabalho, o que aumenta a produtividade diante de um mundo em constante transformação;
• Possibilitando a elaboração de estratégias de saúde e promoção da qualidade de vida, de modo a melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios de todas as regiões do Brasil;
• e muitos outros!

Ao longo de sua existência, o FNDCT foi decisivo para viabilizar a consolidação de uma rede nacional de cientistas, universidades e laboratórios que pesquisam e inovam em todas as áreas do conhecimento, das ciências humanas e sociais às exatas.

Brasil em destaque
Os avanços em ciência, tecnologia e inovação no Brasil nas últimas décadas foram cruciais. Passamos a formar mais de 25 mil doutores por ano, e cientistas brasileiros conquistaram importantes prêmios internacionais.
A ciência produzida aqui tem relevância internacional em áreas como aviação, agricultura, comunicação, produção de óleo e gás, saúde, medicina tropical e meio ambiente. Além disso, chama atenção o crescente número de empresas de base tecnológica e startups.
Confira, nas páginas a seguir, um breve apanhado de projetos e áreas em que o Brasil vem se destacando, graças ao apoio do FNDCT

FNDCT acelera o desenvolvimento e reduz desigualdades

1. Desde 2001, por meio do FNDCT, o Fundo da Infraestrutura (CT-INFRA) investiu cerca de R$ 2,6 bilhões em recursos para instituições de pesquisa e ensino superior públicas (federais, estaduais e municipais), privadas, confessionais e comunitárias, em todas as regiões do país, contribuindo com o avanço do conhecimento para a diminuição das desigualdades regionais.

2. Também é financiado pelo FNDCT, em parceria com as fundações de amparo à pesquisa dos estados, o programa dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), que configuram redes inter-regionais de colaboração com abrangência nacional e desempenho acadêmico, científico e tecnológico compatível com os melhores programas internacionais.

INTEGRAÇÃO E INTERAÇÃO NACIONAL
1.937 INSTITUIÇÕES 6.794 PESQUISADORES 436 PARCERIAS COM ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS E/OU NÃO GOVERNAMENTAIS

COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
787 ACORDOS DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL 1.318 PESQUISADORES ESTRANGEIROS 139 EMPRESAS 376 LABORATÓRIOS INTERNACIONAIS ASSOCIADOS

FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS
10.994 PESQUISADORES FORMADOS 79 PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO CRIADOS 566 DISCIPLINAS CRIADAS

PRODUÇÃO CIENTÍFICA, TECNOLÓGICA E DE INOVAÇÃO
70.389 REGISTROS DE PUBLICAÇÕES ACADÊMICAS 578 DEPÓSITOS DE PATENTES 12 PATENTES JÁ EM COMERCIALIZAÇÃO

3. O apoio do FNDCT à infraestrutura de pesquisa científica e tecnológica é abrangente e chega a todas as instituições científicas do país. Por meio deste apoio, as instituições desenvolvem infraestrutura física e laboratorial, a exemplo dos Centros Nacionais de Equipamentos Multiusuários, e infraestruturas de maior porte, como Sirius, Computador Santos Dumont, Reator Multipropósito, Navio Oceanográfico Vital de Oliveira e Torre Atto, entre outras.

4. Nos últimos 15 anos, a Finep aprovou e financiou no Brasil inteiro, com recursos do FNDCT, mais de 11 mil projetos de inovação nas áreas de agronegócio, defesa, energia, indústria, infraestrutura, meio ambiente, mobilidade, saúde, tecnologia social, tecnologia da comunicação e tecnologia da informação.

5. O FNDCT viabilizou a implementação de mais de duas dezenas de parques tecnológicos em todas as regiões do país.

6. A exploração de petróleo em águas profundas e na região do pré-sal foi viabilizada em tempo recorde graças aos recursos do FNDCT, por meio do Fundo Setorial do Petróleo (CT-PETRO).

7. O FNDCT apoia de forma imprescindível os setores industrial, aeroespacial e de saúde, agronegócio, energia, defesa nacional, tecnologias de informação e comunicação, tecnologias 4.0 e biocombustíveis, todos eles altamente estratégicos para o Brasil.

Desafios para a ciência, a tecnologia e a inovação no Brasil

Embora muito orgulhosos das conquistas da comunidade científica nacional, reconhecemos que ainda há muitos desafios a enfrentar. Em 2020, a pandemia de covid-19 mostrou como é importante que o Brasil tenha autonomia no desenvolvimento e na fabricação de vacinas, equipamentos médicos e insumos para a saúde. Depender dos resultados de pesquisas realizadas em outros países atrasa o enfrentamento desta crise de saúde pública e vigilância sanitária em nosso país.

Além da saúde, a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTIC, 2016), que tem como mote “Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Econômico e Social do País”, inclui vários outros temas estratégicos de grande relevância. Muitos deles são e devem continuar sendo apoiados com recursos do FNDCT: inclusão digital, computação quântica, tecnologias para vigilância de fronteiras, inteligência artificial, manufatura avançada, agricultura 5.0, nanotecnologia, genômica e bioeconomia são alguns exemplos. Fundamentais para assegurar a soberania nacional, ampliar a competitividade do Brasil no mercado internacional e garantir a inclusão social da população brasileira, essas áreas necessitam de financiamento urgente e continuo.

O FNDCT gera ciência, tecnologia, inovação e desenvolvimento. Apoie esta causa!

Referências

ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS (ABC). Ciência, Tecnologia, Economia e Qualidade de Vida para o Brasil: Documento da ABC aos Candidatos à Presidência do Brasil. Rio de Janeiro: ABC, 2018. Disponível em: <http://www.abc.org.br/IMG/pdf/carta.pdf>. Último acesso em: 3 fev. 2021.

FINANCIADORA DE ESTUDOS E PROJETOS (FINEP); MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA, INOVAÇÕES E COMUNICAÇÕES (MCTIC). FNDCT: O fundo da ciência brasileira. Brasília: FINEP, MCTIC, 2009.

GEORGHIOU, L. Value of Research: Policy Paper by the Research, Innovation, and Science Policy Experts (RISE). Luxembourg: Publications Office of the European Union, 2015. Disponível em: <https://ec.europa.eu/futurium/en/system/files/ged/60_-_rise-value_of_research-june15_1.pdf>. Último acesso em: 3 fev. 2021.

INTERNATIONAL MONETARY FUND (IMF). Fiscal Monitor: Acting Now, Acting Together. Washington: IMF, 2016. Disponível em: <https://www.imf.org/en/Publications/FM/Issues/2016/12/31/Acting-Now-Acting-Together>. Último acesso em: 3 fev. 2021.

MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA, INOVAÇÕES E COMUNICAÇÕES (MCTIC). Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação 2016|2022: Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Econômico e Social. Brasília: MCTIC, 2016. Disponível em: <http://www.finep.gov.br/images/a-finep/>. Último acesso em: 3 fev. 2021.

SILVA, J.L.; TUNDISI, J.G. (coords). Projeto de Ciência para o Brasil. Rio de Janeiro: ABC, 2018. Disponível em: <http://www.abc.org.br/wp-content/uploads/2018/05/Projeto-de-Ciencia-para-o-Brasil.pdf>. Último acesso em: 3 fev. 2021.

Academia Brasileira de Ciências
Fundada em 3 de maio de 1916 sob o nome de Sociedade Brasileira de Sciencias, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) completa, em 2021, 105 anos. Foi criada por um grupo de pesquisadores da Escola Politécnica do Rio de Janeiro sob a liderança do astrônomo Henrique Morize – seu primeiro presidente -, com o objetivo de reconhecer o mérito científico de grandes pesquisadores brasileiros e contribuir para a promoção do desenvolvimento da ciência e da educação. Em 1921, a Sociedade passou a chamar-se Academia Brasileira de Ciências, de acordo com o padrão internacional da época.
A capacidade que os países tem de produzir conhecimento e aplicá-lo em desenvolvimento socioeconômico é determinante na separação entre nações pobres e desenvolvidas. Educação de qualidade e pesquisa científica e tecnológica são fatores cruciais para isso e, nesses 105 anos, a ABC consagrou-se como defensora da ciência, da educação e da inovação como eixos estruturantes desse processo. A Academia considera que a difusão das novas descobertas desconhece fronteiras: a ciência e a comunidade que cada um tenha capacidade e competência suficiente em CT&I para promover, com autonomia, seu desenvolvimento social e econômico.
A ABC contribui para o estudo de temas de primeira importância para a sociedade e a proposição de políticas públicas com forte embasamento científico, principalmente nas áreas de educação, saúde, meio ambiente e novas tecnologias. E nesse sentido que a ABC trabalha e se dedica com todo o empenho, tanto em nível nacional como internacional, há mais de um século.

Presidente
Luiz Davidovich
Vice-Presidente
Helena Bonciani Nader
Vice-Presidentes Regionais
Adalberto Luis Val – Norte
Jailson Bittencourt de Andrade – Nordeste & Espírito Santo
Mauro Martins Teixeira – Minas Gerais & Centro-Oeste
Lucia Mendonça Previato – Rio de Janeiro
Oswaldo Luiz Alves – São Paulo
João Batista Calixto – Sul
Diretores
Elibio Leopoldo Rech Filho
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Marcia Cristina Bernardes Barbosa
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Virgilio Augusto Fernandes Almeida
Grupo de Redação
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Alicia Juliana Kowaltowski
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Manoel Barral Netto
Marcelo Torres Bozza
Marcia Cristina Bernardes Barbosa
Mariangela Hungria da Cunha
Nadya Araujo Guimarães
Oswaldo Luiz Alves
Paulo Arruda
Roberto Kant de Lima
Ruben George Oliven
Wanderley de Souza
Coordenador
Jailson Bittencourt de Andrade
Assessoria
Fernando Carlos Azeredo Verissimo
Projeto gráfico e diagramação
Pedro Armando Santoro Dantas
Revisão editorial
Catarina Chagas

Técnica criada na USP permite que robôs “enxerguem” melhor

Códigos de computador desenvolvidos na EESC serão aplicados em robôs para que eles tenham uma melhor percepção de profundidade. Foto: Pexels

Uma pesquisa desenvolvida na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP promete aprimorar a visão dos robôs, fazendo com que eles enxerguem diversos tipos de ambientes de forma mais detalhada. Os cientistas criaram novos códigos de computador (algoritmos) que melhoraram a percepção de profundidade das máquinas, o que irá facilitar o cálculo das distâncias para os obstáculos e, consequentemente, as manobras para desviar com segurança dos objetos. O trabalho gerou um artigo que foi publicado na Robotics and Autonomous Systems, renomada revista científica internacional.

Além de ter aplicação em carros autônomos, a técnica poderá beneficiar o trabalho de drones em florestas para a identificação de queimadas e desmatamentos, a atuação de robôs na área da saúde, realizando, por exemplo, exames de colonoscopia em busca de lesões associadas ao câncer, ou até estar presente nos robôs domésticos, que estão cada vez mais inseridos no cotidiano da população ajudando em tarefas diárias e a tornar a vida mais confortável, segura e produtiva. A percepção de profundidade é crucial para que esses robôs entendam o ambiente e possam operar de forma autônoma”, explica Raul de Queiroz Mendes, autor principal do trabalho e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da EESC. 

Durante o estudo, os pesquisadores testaram o novo método avaliando imagens de tráfego urbano e de ambientes domésticos, como salas, quartos e cozinhas, coletadas de bancos de dados. De acordo com Eduardo Godinho Ribeiro, doutorando em Engenharia Elétrica da EESC e também autor do estudo, os resultados mostraram que a técnica desenvolvida na USP alcançou uma estimativa de profundidade cerca de 33% mais precisa que a referência pioneira desta área na literatura científica. Considerando apenas as imagens internas, esse número passa de 36%.

Na segunda coluna da esquerda para a direita é possível observar como o sistema robótico proposto pelos cientistas da USP enxerga diferentes ambientes. A qualidade é visivelmente superior que a dos métodos das colunas seguintes. Foto: Raul de Queiroz Mendes

Além de serem mais precisos, os novos algoritmos demandam ainda menor poder computacional, proporcionando uma resposta mais rápida do robô. “Nosso trabalho apresenta contribuições com relevante impacto científico para a área e subáreas da Inteligência Artificial e Visão Computacional. Portanto, além dos benefícios do novo método, o artigo que publicamos passa a servir como uma referência atual para os demais trabalhos, contribuindo com aqueles que desejam iniciar pesquisa no ramo”, afirma Valdir Grassi Junior, orientador do trabalho, pesquisador do INCT de Sistemas Autônomos Cooperativos (InSAC) e professor do Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação (SEL) da EESC.  

Mas, afinal, como o robô é capaz de identificar a profundidade de um ambiente? Diferentemente das técnicas clássicas de Visão Computacional, que se utilizam de relações trigonométricas e comparações entre pares de imagens sob diferentes ângulos, os pesquisadores da USP adotaram os chamados “métodos monoculares baseados em aprendizagem profunda” para determinar as formas e profundidades de um cenário. Segundo os especialistas, esse caminho é mais desafiador e complexo, pois no momento da avaliação é preciso levar em conta algumas “pistas” da imagem, como sombras, iluminação, cor, textura, disposição dos objetos, entre outros elementos que ajudam o sistema robótico a calcular a profundidade. 

Pensando em uma aplicação para veículos autônomos, analisar os elementos urbanos com mais rigor pode ser fundamental para a prevenção de acidentes. “Aferir a profundidade de cenas com maior precisão pode melhorar os mecanismos de percepção robótica de carros autônomos, permitindo que eles compreendam melhor o espaço 3D a sua volta e realizem ações mais seguras”, explica Nícolas dos Santos Rosa, um dos autores do trabalho e doutorando em Engenharia Elétrica pela EESC. 

Nesta figura, a segunda coluna mostra como o sistema da USP enxerga algumas vias urbanas com carros, pedestres e ciclista. É possível perceber um detalhamento maior das imagens em comparação com as presentes nas outras colunas, obtidas por meio de outros métodos. Foto: Raul de Queiroz Mendes

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1,35 milhão de pessoas morrem em acidentes de trânsito por ano e 50 milhões sobrevivem com lesões que podem levar à invalidez. Como cerca de 94% dos acidentes são causados por falha humana, os veículos autônomos, juntamente com seus mecanismos de percepção, tornam-se uma solução viável contra o grande número de mortes e sequelas provocadas, que envolvem, principalmente, pedestres, ciclistas e motociclistas. 

Os próximos passos do estudo envolvem a aplicação da nova técnica no carro autônomo que está sendo desenvolvido no InSAC, em robôs que realizam tarefas de pegar de objetos, além de sua utilização em drones para atividades de inspeção, mapeamento e monitoramento. A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). 

Por Henrique Fontes, da Assessoria de Comunicação do InSAC/USP

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Celular preso ao pé pode ajudar a detectar doenças neurológicas

Smartphone poderá ser utilizado para identificar possíveis anomalias na caminhada humana. Foto: Francisco Ambrosio Garcia/Arquivo pessoal

Imagine um dia utilizar um aplicativo de celular capaz de monitorar e identificar possíveis anomalias na caminhada de uma pessoa, auxiliando profissionais da saúde no diagnóstico ou tratamento de alguma doença, como Parkinson e Alzheimer, enfermidades que podem afetar a capacidade de locomoção de um indivíduo. O primeiro passo para o desenvolvimento de uma tecnologia como essa foi dado em um estudo que está sendo conduzido na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP que pretende tornar esse tipo de avaliação mais simples, barata e precisa. 

A ideia dos pesquisadores é realizar a tarefa utilizando os chamados sensores inerciais, que são encontrados no interior de smartphones (são eles que permitem a tela girar conforme o aparelho é virado). Responsáveis por medir grandezas como aceleração e velocidade, esses sensores podem ser conectados a aplicativos e gerar dados que permitam avaliar se cada movimento da passada humana está sendo feito corretamente. “Além de identificar parâmetros alterados nos passos por conta de uma eventual patologia, esses sensores poderiam ser aplicados para monitorar a evolução do paciente durante um tratamento de recuperação motora a partir de métricas previamente definidas, auxiliando o médico a tomar suas decisões”, explica Francisco Ambrosio Garcia, autor da pesquisa, que faz parte de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), e estudante do curso de Engenharia Elétrica da EESC. 

Atualmente, os sensores inerciais são utilizados de forma avulsa para esta finalidade, acompanhados de equipamentos específicos, que não estão disponíveis para a população em geral, do uso de câmeras, sensores de pressão e da infraestrutura de laboratórios especializados, tornando o processo mais caro e complexo. “O diferencial do meu trabalho foi que eu aproveitei os sensores que já estão embutidos em todos os aparelhos celulares modernos para fazer esse mapeamento. Isso pode permitir que, no futuro, o sistema de acompanhamento seja desenvolvido apenas como um aplicativo que o paciente instalaria no celular, eliminando a necessidade de adquirir novos dispositivos, que muitas vezes têm alto custo”, explica o jovem. 

Sensores inerciais avulsos tornam o processo de análise de caminhada mais caro e complexo. Francisco Ambrosio Garcia/Arquivo pessoal

Para testar a nova abordagem, Francisco teve a ideia de amarrar um smartphone em um de seus pés para que os movimentos da caminhada fossem obtidos. Os dados eram enviados para um aplicativo disponível em sistemas Android e automaticamente repassados para o laptop do estudante, onde ele pôde interpretar as informações: “A solução que eu encontrei, embora pareça precária, obteve resultados comparáveis a trabalhos já existentes que utilizam equipamentos disponíveis em laboratórios especializados. Os resultados foram bastante promissores e abrem caminho para trabalhos futuros”, afirma o aluno, que teve a ideia a partir das condições impostas pela pandemia do novo coronavírus, que demandou o isolamento social e comprometeu a presença de estudantes nos laboratórios da USP. Nos próximos passos da pesquisa, Francisco pretende investigar se é possível realizar o mesmo tipo de monitoramento com o celular dentro do bolso. 

Outra vantagem de utilizar apenas o celular para obter os dados dos pacientes é que o acompanhamento remoto do usuário seria facilitado, permitindo que as informações sejam coletadas de forma contínua e enviadas a um profissional da saúde. “Os atuais sistemas de reabilitação e acompanhamento a distância de pacientes ainda não são tecnologias maduras e, embora existam alguns sistemas pontuais de telereabilitação no Brasil, na grande maioria dos casos o paciente precisa se deslocar até um laboratório ou clínica especializada para fazer a coleta dos dados”, explica.

Formação e experiência- O estudante teve o primeiro contato com a ciência logo no primeiro ano de graduação, quando realizou iniciação científica (IC), com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Ele foi orientado por Marco Henrique Terra, professor do Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação (SEL) da EESC e coordenador do INCT-SAC. “A IC permitiu que eu aprendesse métodos científicos e me proporcionou o contato com pesquisadores de diversas nacionalidades, o que, culturalmente, enriqueceu muito minha vivência na graduação”, conta. 

Francisco deseja trabalhar com problemas desafiadores para ajudar pessoas. Foto: Francisco Ambrosio Garcia/Arquivo pessoal

Por meio de uma parceria da USP com instituições francesas, o aluno teve a oportunidade de fazer um intercâmbio na escola Supélec, uma das mais prestigiadas do país na área de Engenharia Elétrica, da qual ele também receberá um diploma. Durante a experiência, ele revela que uma das diferenças que notou entre a graduação nos dois países é que no Brasil o foco das disciplinas é voltado para a resolução de problemas práticos, o que ele considera ser mais “mão na massa”. Já na França, a parte teórica está mais presente, com alto rigor matemático. 

Ainda no país europeu, o aluno realizou estágio em uma das maiores empresas de transporte público do país. De volta ao Brasil, fez um novo estágio junto à indústria, em São José dos Campos. Agora, por fim, está trabalhando com métodos computacionais em biomedicina. Todas essas experiências serviram para mostrar o amplo campo de atuação que alguém formado em engenharia elétrica possui. “Uma lição que aprendi ao longo dessas experiências é a importância de sermos flexíveis. No mercado de trabalho nos deparamos todos os dias com problemas diferentes daqueles vistos em sala de aula, por isso precisamos nos adaptar rapidamente a diversos contextos e novas tecnologias. Descobri que, independentemente da área que eu venha a atuar no futuro, me interesso por problemas desafiadores, que de alguma forma possam ajudar pessoas”, finaliza.

Por Henrique Fontes, da Assessoria de Comunicação do InSAC


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USP cria exoesqueleto robótico para reabilitar pessoas que sofreram AVC

Tecnologia pode ser controlada por algoritmos, que orientam as ações do equipamento no auxílio ao paciente

Sistema robótico auxiliará pacientes a realizar movimentos na reabilitação pós-AVC. Foto: Henrique Fontes

O Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame, afeta anualmente milhares de pessoas no Brasil, e pode deixar sequelas graves, como a limitação ou perda dos movimentos das pernas, impossibilitando o indivíduo de caminhar. A reabilitação pós-AVC é fundamental para a recuperação do paciente, e com o objetivo de contribuir nesse processo, pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP desenvolveram um exoesqueleto robótico capaz de auxiliar profissionais da área da saúde no tratamento de vítimas de AVC. Com base na força que o paciente faz durante um exercício, o equipamento identifica com precisão em qual parte do membro inferior ele apresenta mais dificuldades, atuando de forma automática na região afetada para ajudá-lo a completar o movimento. 

“Um dos diferenciais do nosso exoesqueleto em relação aos disponíveis no mercado é que ele pode ser configurado para tratar várias articulações da perna do paciente ao mesmo tempo, como o tornozelo, joelho e quadril. Com essa possibilidade, nós conseguimos proporcionar ao usuário uma recuperação muito mais rápida e eficiente”, explica Adriano Almeida Gonçalves Siqueira, coordenador do trabalho e professor do Departamento de Engenharia Mecânica (SEM) da EESC. Nomeado “Exoesqueleto Modular de Membros Inferiores”, o aparelho já possui uma patente registrada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). 

Tecnologia possui sensores que “medem” a força que o usuário realiza durante o exercício. Foto: Henrique Fontes

Outro destaque do equipamento é que ele pode ser controlado por algoritmos (códigos de computador), desenvolvidos para mensurar a força realizada pelas pernas do usuário e definir como o exoesqueleto deve agir nas regiões enfraquecidas, auxiliando o paciente a completar uma tarefa específica, como caminhar, subir e descer escadas, sentar e levantar. Uma das possíveis sequelas de quem sofre AVC é ficar com o pé caído, situação em que a pessoa o arrasta no chão quando tenta andar. Com os nossos algoritmos atuando em conjunto com o exoesqueleto, nós conseguimos identificar a gravidade dessa deficiência e ajudar o indivíduo a melhorar sua passada por meio de estímulos que são gerados pelas juntas do equipamento”, afirma Felix Maurício Escalante Ortega, criador dos códigos e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da EESC, onde é orientado pelo professor Marco Henrique Terra, coordenador do INCT de Sistemas Autônomos Cooperativos (INCT-SAC). 

Construído durante a pesquisa de doutorado do ex-aluno da EESC Wilian Miranda dos Santos, atualmente professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em São João da Boa Vista, o aparelho pesa aproximadamente 11 kg e é composto, basicamente, por um cinto pélvico para fixação ao tronco do paciente, juntas posicionadas nas principais articulações das pernas, sensores de força que monitoram a interação entre o robô e o paciente, pequenos motores para impulsionar os movimentos do equipamento, cintas de velcro e um par de sapatos personalizados preso ao exoesqueleto. Para testar a tecnologia e avaliar a influência do equipamento em atividades que demandam esforço muscular, foram realizados diversos experimentos em uma esteira, onde um sujeito saudável interagiu com o exoesqueleto.

Exoesqueleto pode estimular várias articulações do paciente ao mesmo tempo. Foto: Henrique Fontes

Os resultados mostraram que o sistema garantiu a estabilidade e segurança do contato entre o ser humano e o robô, registrou alto desempenho na transmissão dos dados referentes à força exercida pelo usuário, além de ter ajustado adequadamente o nível de assistência necessária do aparelho ao voluntário. Diante da atuação do sistema, os cientistas concluíram que os algoritmos desenvolvidos ofereceram uma solução sob medida e promissora para fins de reabilitação, estimulando corretamente diferentes movimentos do indivíduo. 

A doença – O Acidente Vascular Cerebral ocorre quando os vasos que levam sangue ao cérebro entopem ou se rompem, bloqueando a circulação sanguínea. Quanto mais rápido o diagnóstico e o tratamento forem feitos, maiores são as chances de recuperação. Os principais sintomas do AVC são fraqueza ou formigamento no rosto, braço ou perna, confusão mental, alterações na fala, visão e equilíbrio e dor de cabeça súbita e intensa. Segundo o Ministério da Saúde, o derrame é a segunda maior causa de morte no Brasil, ficando atrás apenas dos óbitos por problemas cardíacos isquêmicos. Em 2018, foram registrados 197 mil atendimentos no Sistema Único de Saúde (SUS) em decorrência de AVC, que pode ser tratado de forma gratuita. 

Felix (à esquerda) e o professor Adriano. Foto: Henrique Fontes

Segundo os pesquisadores da EESC, o número de casos da doença deve aumentar nos próximos anos em função do envelhecimento da população mundial, já que sua incidência é maior entre os idosos, o que evidencia a importância da criação de novas técnicas de reabilitação. Os especialistas contam que os próximos passos do trabalho desenvolvido na USP envolvem a realização de testes com pacientes que sofreram AVC. A expectativa dos cientistas é de que a nova tecnologia, criada no Laboratório de Reabilitação Robótica do SEM, possa estar no mercado em até cinco anos. 

As pesquisas foram financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Os resultados obtidos nos estudos geraram cinco artigos científicos que foram divulgados em revistas do exterior e em um evento acadêmico internacional. Confira, abaixo, a lista de todos os trabalhos produzidos e o vídeo demonstrativo do protótipo desenvolvido na USP. 

Optimal impedance via model predictive control for robot-aided rehabilitation 

Design and Control of a Transparent Lower Limb Exoskeleton In: Biosystems & Biorobotics 

Robust Kalman Filter and Robust Regulator For Discrete-time Markovian Jump Linear Systems: Control of Series Elastic Actuators 

Impedance Control for Robotic Rehabilitation: A Robust Markovian Approach

Robust Markovian Impedance Control applied to a Modular Knee-Exoskeleton, apresentado no 21st IFAC World Congress, ocorrido este ano em Berlim, na Alemanha.  

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