Pesquisador do InSAC toma posse na Academia Brasileira de Ciências

O professor Oswaldo Luiz do Valle Costa, docente da Escola Politécnica da USP e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Sistemas Autônomos Cooperativos (InSAC), é um dos mais novos membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Indicado e apoiado pelos pares, Oswaldo – que foi eleito pelos membros da entidade – tomou posse a distância no último mês de maio por conta da pandemia de Covid-19. 

Professor universitário há 30 anos, o cientista é membro da academia Nacional de Engenharia desde 2018, coautor de livros internacionais usados como referências em diferentes países e ainda conta com mais de uma centena de artigos publicados, além de dezenas de mestres e doutores orientados. “É uma alegria enorme! Fiquei muito contente por ter o trabalho reconhecido”, celebra. 

O professor Oswaldo tomou posse na ABC em maio.

Fundada em 1916 com o objetivo de reunir os mais importantes cientistas brasileiros, a ABC contribui com diferentes ações para o estudo de temas de primeira importância para a sociedade, dando subsídios para a formulação de políticas públicas no país. Com um quadro atual de mais de 900 pesquisadores, é uma das mais antigas associações de cientistas brasileiras e reconhecidamente a mais prestigiada dessas entidades. Oswaldo conta que espera agora, com a nova titulação, poder estimular ainda mais os jovens a seguirem a carreira acadêmica. 

Carioca, crescido na Urca, o cientista lembra que sempre foi uma criança curiosa e um adolescente interessado pela ciência, principalmente, por engenharia, física e matemática. “Sempre gostei da área de exatas e fui incentivado a estudar pelos meus pais, que não são cientistas”, lembra. Desde a adolescência, o professor tinha uma pequena oficina no quarto, onde adorava estudar circuitos. “Eu comprei até um kit que era vendido em banca de jornal naquela época para montar rádio em casa. Tinha um ferro de soldar e vivia me queimando”, recorda. 

Com graduação e mestrado em Engenharia Elétrica pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, concluídos em 1981 e 1983, respectivamente, Oswaldo se apaixonou mesmo pela área quando entrou no ensino superior. “Quando eu descobri a Engenharia de Controle, que é mais multidisciplinar, que mexe com matemática e computação, foi muito motivador. O curso tinha professores excelentes que apresentavam não só ferramentas profissionais, mas também incentivavam a pesquisa, encorajavam a fazer mais para além das provas”, diz. 

O cientista durante o doutorado em Londres

Após o mestrado, aos 23 anos, Oswaldo foi para Universidade de Londres fazer doutorado. O jovem engenheiro resolveu sair pela primeira vez da casa da mãe no Rio de Janeiro, onde morava com a irmã, e mudar para a Inglaterra para viver uma experiência internacional”. No primeiro ano foi difícil, era outra situação. Eu dividia apartamento, era outra língua, outra cultura, temperatura diferente do Rio, além de outros fatores. Depois a gente acaba se acostumando e se adaptando. No fim, foi fundamental para a minha carreira”, analisa. 

Foi durante o doutorado que Oswaldo conheceu sua esposa, que também estudava na Inglaterra, em uma festa de carnaval realizada por um grupo de brasileiros. Foi ela quem fez o carioca mudar para São Paulo, após a conclusão da tese, e prestar o concurso para docente na Poli. A relação com a mulher e com a USP dura até hoje. Oswaldo, que já foi chefe do Departamento de Engenharia de Telecomunicações e Controle, sente-se grato por fazer parte da história da Universidade. 

Oswaldo conheceu a esposa em Londres, onde se tornou doutor

“No começo dos anos 90, a Poli era muito voltada para formar engenheiros de mercado e nós conseguimos incentivar o desenvolvimento de pesquisas. Eu tive que procurar um doutorado fora do Brasil, pois não tinha um curso desse tipo no país. Mas hoje temos e podemos fazer qualquer ciência. Em três décadas, avançamos muito, criamos uma comunidade científica muito forte. É uma luta constante”, admite. 

Apesar das conquistas, não foi uma tarefa fácil. Para Oswaldo, embora exista uma classe pensante de primeira linha no Brasil, formada por pessoas muito capazes, ainda hoje se ouve absurdos em relação à Ciência. Segundo o cientista, a academia precisa conseguir mostrar de forma mais clara o seu papel e a sua importância. “Temos alguns avanços na comunicação, mas precisamos romper a barreira da elite intelectual e conversar com a população em massa para convencer os políticos da relevância da pesquisa. Também falta investimento, o que acarreta a perda de bons profissionais para outros países, já que aqui não são valorizados”, ressalta. 

O pesquisador no Laboratório de Automação e Controle da Escola Politécnica.

Atualmente, o especialista desenvolve projetos teóricos relacionados a sistemas que se reconfiguram após detectar falhas, tornando-os tolerantes a possíveis erros. Os estudos são desenvolvidos tanto no InSAC, que é sediado na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, como no Centro de Pesquisa para Inovação em Gás (RCGI), uma base mundial para estudos avançados no uso sustentável do gás natural, biogás, hidrogênio, gestão, transporte e armazenamento de emissões de CO2. Além disso, Oswaldo foi editor associado de periódicos internacionais, como o Automática e IEEE Control Systems Letters, e atualmente é editor associado do  SIAM Journal on Control and Optimization. Ele ainda coordena um curso de especialização. 

Olhando para o futuro, o pesquisador deseja continuar trabalhando e fazendo Ciência por mais uns bons anos. “Espero que, em breve, nós possamos voltar a nos encontrar com os alunos dentro das universidades. Tenho uma responsabilidade muito grande de continuar formando esses estudantes”, afirma. Para aqueles que também são apaixonados por Ciência o professor deixa um recado: “Não desista da carreira, apesar de todas as dificuldades. É muito gratificante. Não se ganha tanto dinheiro, mas você vai ter a satisfação pessoal de passar o conhecimento para frente, formar novos profissionais e trabalhar para o desenvolvimento do país”, conclui.

Por Eduardo Sotto Mayor, da Fontes Comunicação Científica, para o InSAC

Fotos: Oswaldo Luiz do Valle Costa – Arquivo pessoal